segunda-feira, 5 de outubro de 2015

FABULA SOBRE DEFICIENCIA

Você quer ser um sapo que vive dentro de um buraco ou um sapinho sapeca?

Rede SACI
04/02/2004

Jaqueline Oliveira Moreira faz a relação entre uma fábula e a pessoa com deficiência

Jaqueline Oliveira Moreira*
Um dia, um sapo, ingênua e inadvertidamente, caiu num buraco. Poft! E ali ficou. Era razoavelmente amplo, tinha água, era escurinho, aquecido, livre dos perigos, havia o necessário para sua sobrevivência, enfim, era um mundo maravilhoso aquele buraco!
O tempo foi passando, o sapinho transformou-se em um sapão. E um sapo gordo, inchado, e numa zona de conforto, daquela que ele pediu a Deus. Num certo dia, ele acorda em meio a um barulho estranho e novo para o mundo em que vivia: um bicho estranho e meio peçonhento caiu bem perto dele.
"- Ué! Quem é você!" - pergunta ele, assustado.
"- Sou um sapo, ora!" - responde o estranho visitante.
"- Mas sapo sou eu!" - questiona o habitante do buraco.
"- Meu amigo, existe milhares de sapos no mundo lá fora." - retrucou o outro.
"- Mundo lá fora?! Como assim?" - indagou o dono do buraco.
"- É, meu amigo... O mundo lá fora é maravilhoso. E uma das coisas que faz com que ele seja mais maravilhoso ainda, são umas criaturas especiais, razão maior da nossa vida de sapo: as sapinhas. Além disso - continuou ele - é magnifico o entardecer, quando ficamos todos juntos, cantando nas lagoas e nos alimentando dos mosquitos que voam desgovernados.
"- Lagoa?! Mosquitos?!" - mais surpresas para o velho e acomodado sapo.
"- E tem mais: quando anoitece, é lindo o céu de estrelas!" - ressaltou, romanticamente, o sapinho sapeca.
"- Epa! Aí você me paga. Eu, também, todas as noites, consigo contar, quatro a cinco estrelas vistas daqui de casa." - gabou-se o acomodado.
"- Pois é, meu amigo. Aí que está a nossa diferença: eu posso contar, aliás, nem posso, pois são milhões e milhões de estrelas!
E, assim, o sapinho sapeca foi dissertando sobre as belezas e vantagens do mundo lá fora.
"- Por outro lado, tem um bicho terrível, com o qual precisamos ter muito cuidado, e que não tem conhecimento do quanto somos úteis no processo de equilíbrio do meio-ambiente. Quando a gente menos espera ele chega, de repente, e cutuca a gente, e a gente rola, rola que parece uma bola murcha! Joga sal no nosso dorso, coloca álcool em nossas costas, e depois (ai!) ateia fogo, e a gente sai pulando, pulando, no desespero das labaredas queimando o nosso corpo. É o bicho-homem. Além dele, tem outro bicho traiçoeiro, peçonhento, com o qual precisamos estar sempre em alerta: as cobras. Mas é bom. Bom, não, é maravilhoso viver e amar nesse mundão todo lá fora! Bem, tá ficando tarde; eu vou dar um pulinho e continuar meu passeio.
" - Pulinho?!" - surpreendeu - se, mais uma vez, o sapo do buraco.
"- Sim, meu amigo. Sapo pula. E, a propósito, você não gostaria de ir comigo?"
"- Pensando bem, com esse negócio de homem, de cobra... Desses perigos todos que você falou, acho melhor não. Prefiro ficar por aqui. Pelo menos, aqui eu já sei que tá bom. Pode ir. Eu tô muito bem aqui.

A fábula "O Buraco, o sapo e o sapinho sapeca" foi extraída do livro "SOS: dinâmica de grupo", de Rose Militão Albigenor

Podemos trazer essa fábula para o cotidiano das pessoas com deficiência. Ela conta a história de um sapinho acomodado. Pode-se dizer que, muitas vezes, as pessoas com deficiência são assim também, até por causa da família.
A família cuida tanto desse indivíduo que não sabe o quanto o prejudica. Eles esquecem que ali há um ser humano, que tem sentimentos e precisa conhecer a vida. Não adianta proteger tanto. O deficiente precisa sair de casa, aprender a ser mais independente, já que, na vida, só aprendemos quando erramos. Além disso, ele deve sair, se divertir, estudar, e conhecer o mundo lá fora; não ficar trancafiado em sua casa, apenas na frente do computador ou assistindo TV, vivendo uma vida de ilusão.
Muitas vezes, a família põe a culpa de todos os seu problemas na pessoa com deficiência, como se ela fosse uma pedra no seu caminho, que sempre vai precisar de alguém. É justamente por isso que trago essa fábula para ser questionada. Será que essas pessoas não podem amar, sofrer, errar? Eles são tão protegidos que quando querem sair dessa redoma de vidro, não conseguem, já que estão super tão acomodados. É a partir desse momento que precisamos lutar pela nossa independência em relação à família, e não aceitar os obstáculos que a sociedade coloca. Temos que esquecer aquela velha história do: "não saia na rua, alguém pode te maltratar", porque é por meio do convívio social que iremos nos adaptar a nossa vida e poderemos, a cada dia que passa, mostrar que somos capazes, mesmo que tenhamos um pouco de dificuldade. Não há nada que nos impeça de viver.

* Jaqueline Oliveira Moreira é estudante de Psicologia e deficiente física. Se você quiser entrar em contato com ela, mande um e-mail para minerinhajom@yahoo.com.br.

Um comentário:

  1. Gostei muito da reflexão. Peço licença para usá-la em uma reunião do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

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